26 de dezembro de 2020

Um TOURO no SALÃO – Com chifres afiados, o “TOURO” da cidade de Pau dos Ferros, foi o terror dos adversários no SALÃO, durante a década de setenta e início dos anos 80.

Conhecida como o “TOURO” de Lino, a equipe de Futebol de Salão, da cidade de Pau dos Ferros/RN, fez história dentro das arenas do nosso salonismo.

                  Foto do Acervo Pessoal de Tibúrcio Filho                               

Em pé: Doceiro, Lino (In memoriam), Renan, Geraldo Preto e João de Tiquin

 Agachados: Luis Naiá, Tibúrcio Filho, João Naiá e Canindé.

o touro mais famoso do Brasil,  foi o touro Bandido. Uma lenda que ficou conhecido internacionalmente como o melhor do rodeio brasileiro. Sua fama nasceu por derrubar os peões com uma rapidez impressionante. Apenas um Cowboy permaneceu em seu lombo por 8 segundos. No entanto, o esporte brasileiro teve um outro touro que também deixou o seu nome registrado na história. Trata-se da equipe de Futebol de Salão do “Touro” da cidade de Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, que durante toda a década de setenta e início da década de oitenta, fez história no salonismo local, estadual e interestadual. Pois durante esse período da nossa história esportiva, a equipe chegou há realizar diversos amistosos e participar de torneios em várias cidades, localizadas no sertão paraibano e cearense.

A BOLA PESADA

O Futebol de Salão jogado nas décadas de sessenta, setenta e oitenta, era uma modalidade bastante viril, disputada palma a palmo, dentro de pequenos espaços. Nesse período da história do nosso salonismo, a modalidade era praticada em quadras que possuíam dimensões menores, bastante diferente das quadras atuais, utilizadas para a prática do Futsal moderno. Os atletas tinham que ser rápidos e inteligentes para improvisar nos dribles. O jogo era imprevisível. Por isso, a coragem era fundamental para jogar no Salão. Principalmente quando o desafio era enfrentar alguns dos atletas mais temidos, devido a sua virilidade, possuidor de um vigor físico acima da média, chamado de “Brutos”.

PRA CIMA

Formada por um celeto grupo de craques, donos de habilidades peculiares, a equipe do Touro costumava ser a mais temível para seus adversários na década de setenta. Suas apresentações eram famosas nos torneios da cidade. Uma de suas táticas era jogar pra cima do adversário, utilizando a força e principalmente há habilidade de seus atletas.

O TOURO – UMA LENDA DA DÉCADA DE 1970

Trata-se de um touro que fez história nas competições de Futebol de Salão, mas sobre o qual não se tem muitos registros. Não existe imagens em movimento, o que confirmaria a performance dessa equipe e de seus atletas ao longo da sua trajetória.

O ápice dessa equipe foi nos anos 1970, quando se tornou uma das sensações de Pau dos Ferros, o principal berço do salonismo da região. Muitas equipes desse período viram suas expectativas de sagrar-se campeã de torneios realizados nas quadras de nossa cidade e da região, irem por água abaixo com o Touro do senhor Lino.

Entre seus atletas mais famosos da época, João Naiá, se destacava pelos dribles e velocidade, Terceiro, pela habilidade descomonal, Geraldo Preto, Canindé, Tibúrcio Filho, um fino goleador e o goleiro Doceiro, por suas belas defesas e poses no ar. O antigo arqueiro é considerado um dos melhores goleiro da história do salão e também do futebol convencional de nossa cidade. Os adversários tinha muita dificuldade de parar os atletas do Touro. Até mesmo o “Centenário”, outra grande equipe e que tinha o grande desportista de nossa cidade, o Capitão Geraldo Bento, como proprietário, só obteve sucesso em alguns poucos confrontos, dos vários jogos disputados entre as duas equipes, nas quadras do CSU, 4 de setembro e do 7º BPM - Batalhão de Policia Militar, na cidade de Pau dos Ferros. 

O PODEROSO E TEMIDO

O Touro, equipe poderosa e temida, os seus atletas colocavam medo até quando adentravam na quadra. Vestindo aquele manto sagrado, a sua tradicional camisa de cor vermelha e utilizando como logomarca, a cabeça de um touro, que representava o nome da equipe, deixava seus adversários de olhos esburgalhados diante da pompa daquele elenco.

EXTRAÍDO DO LIVRO: GINÁSIO DE ESPORTES PROF. JOÃO FAUSTINO - 20 ANOS – DA GLÓRIA A DESTRUIÇÃO – “Do Maranguape ao Sumov “ de Jocéli Torres, presidente da Liga Futsal de Pau dos Ferros/RN.

“Quando falamos em TOURO, vem logo a mente um animal grande de quatro patas, que tem um papel importantíssimo na culinária do homem sertanejo. Sua carne faz parte constante no prato de nossa população. A própria origem da cidade de Pau dos Ferros tem tudo haver com o gado bovino, o popular boi ou touro, pois os vaqueiros que aqui passavam, tinha as nossas terras como parada obrigatória para descansar nas sombras das oiticicas, e dá água ao gado, fato este que veio a ocasionar na denominação do nome da cidade, PAU-DOS–FERROS, em referência as marcas dos ferros, que os vaqueiros ferravam o gado, deixadas nos troncos das oiticicas.

No entanto, num passado não muito distante, mas parecendo-o ser, devido principalmente pela a nossa falta de cultura ou até de respeito com a nossa história e com aqueles personagens que ajudaram a construir esta bela cidade, encravada em pleno sertão nordestino, existiu uma equipe denominada de TOURO FUTEBOL CLUBE, que apesar da sua nomenclatura direciona-lo para o futebol de campo, esta equipe maravilhosa fez história também no nosso velho e bom FUTEBOL DE SALÃO.

Criada pelo grande desportista LINO LOPES SOBRINHO, a escolha do nome Touro, já demonstrava a criatividade e a visão futurística desse, ainda jovem, desportista, que apesar de sua origem futebolística, há sua iniciativa inovadora para os padrões da época, e a percepção de colocar a equipe do TOURO, também, para participar dos torneios no SALÃO, demonstrava o seu amor pelo esporte.

Pessoa simples, querido por muitos, o senhor Lino atuou sempre no ramo de carne, foi marchante durante toda a sua vida. Sua ligação com gado, certamente o influenciou na escolha do nome TOURO, para representar o nome do clube, como na escolha de sua logomarca, nada mais sui generis que a cabeça de um touro, que tanto fazia parte no seu dia - dia. Habilidade no trato com as palavras, ao falar com as pessoas, certamente deu ao senhor LINO, a condição e credibilidade, que só um desportista com grande habilidade poderia juntar tantos adeptos, atletas, amigos e admiradores para fazer do TOURO, um esquadrão respeitado. 

Tudo isso aconteceu, durante a existência da equipe do TOURO, a fama da equipe do senhor LINO, atravessou fronteiras, levando juntamente com o CLUBE CENTENÁRIO PAUFERRENSE, o nome da cidade de Pau dos Ferros, há várias cidades da nossa região e de outros estados, possibilitando aos seus atletas, desfilar suas habilidades, nos campos como nas quadras, durante a década de setenta e início da década de oitenta.

Cidades como: Luiz Gomes, Catolé do Rocha  e Souza, na Paraíba, sentiram a força do TOURO. A equipe jogava futebol na parte da tarde e ficava na cidade para jogar a noite Futebol de Salão. E as goleadas mostrava a força da equipe e consequentemente do nosso esporte.

Nessa época, era normal os atletas jogarem a tarde, no estádio 9 de Janeiro, e à noite descerem para a quadra do quartel, o 7º BPM, e fazerem que a bola rolar solta, sob a pouca iluminação, dos poucos refletores existentes na quadra. A equipe do TOURO, chegou a ter no seu elenco, grandes nomes, atletas conhecidos do nosso esporte, que marcaram época defendendo as cores Vermelhas e branca da equipe.

Segundo o Senhor LINO, em uma conversa bem descontraída, ocorrida na sua residência, me confidenciou que a equipe do TOURO, quando precisava jogar a tarde e à noite, no mesmo dia, no campo e no salão, suas ordens eram mais severas. Segundo o Senhor Lino, era uma luta segurar a galera para não tomarem uma cachacinha, antes de entrar na quadra. entretanto havia noites que Manel e João Naiá, os mais afoitos na bebida, por terem exagerados na comemoração anterior, não tinham condições nenhuma de jogar, obrigando ao senhor LINO, utilizar uma equipe mais jovem, e pouco experiente para colocar em quadra.

Para seu LINO, o melhor jogador de Futebol de salão, que viu em atividade na nossa cidade, foi Terceiro. "Dono de uma habilidade acima do normal, ótimo finalizador e um artilheiro nato. Seu forte era a explosão, quando ficava de frente para o seu marcador, ele colocava a bola na frente, e era difícil conseguir segurar". Disse o senhor Lino.

O CENTENÁRIO, era o orgulho dos desportistas da cidade, desfrutava das glórias de ser a principal equipe de futebol amador do estado, uma equipe vencedora que tinha em seu plantel, os melhores atletas da região e havia acabado de galgar o título do matutão de 1972, considerada na época, a principal competição amadora de futebol do nosso estado. Porém! no outro lado da cidade ficava o TOURO FUTEBOL CLUBE, o primo pobre do nosso esporte. O Touro não possuía os mesmos recursos e tão pouco as glórias que CENTENÁRIO havia conquistado, no entanto, a determinação do senhor Lino e a vontade de vencer de seus atletas, fizeram da equipe do Touro, um osso duro de roer.

A primeira vez que ouvi falá da equipe do TOURO foi em 1977, quando Limário ( já falecido ), filho de senhor LINO, então meu colega de Escola Estadual Tarcísio Maia e amigo dos meus tios, esteve lá por casa, vestido com uma camisa do TOURO. Era uma camisa branca com a cabeça de um touro, na cor vermelha, estampada na parte da frente, que de longe já chamava a atenção de qualquer pessoa, e não foi diferente comigo. Gostei de cara da camisa do touro, talvez pelo destaque da estampa.

Alguns anos já haviam se passado, desde aquela cena que havia presenciado na minha casa e que ficou gravada nas minhas lembranças, quando assistindo pela TV uma partida de basquete americano, precisamente da NBA, observei que havia na parte da frente da camisa, há estampa de uma cabeça de um touro, o que me fez voltar no tempo, precisamente ao ano de 1977, e relembrar aquela estampa na camisa do Limário. O ano era 1984, a logomarca em questão, era da equipe americana do ” Chicago Bulls “ ou simplesmente de “Os touros de Chicago’”. Aquela logomarca fez voltar ao tempo de quando menino, e lembrar da camisa do TOURO dos anos setenta, da cidade de Pau dos Ferros.

A cabeça de um touro estampada no peito da camisa da equipe, já deixava os adversários temerosos, imagine ter que enfrentá-los dentro das quatros linhas. Ter que encarar as feras: Doceiro no gol, Manel, Renan, João Naiá, Geraldo Preto, Canindé,Terceiro, Tibúrcio Filho,  entre outros que chegaram a vestir o uniforme vermelho e o branco da equipe do TOURO FUTEBOL CLUBE, como: Haroldo, que defendia a equipe da Policia Militar, realmente não era tarefa fácil para nenhuma equipe.

A equipe do TOURO, chegou a realizar várias partidas contra o selecionado de Itaú, no final da década de setenta. Durante o transcorrer da conversa com o senhor LINO, pudemos contar várias histórias engraçadas e casos pitorescos ocorridos no esporte de nossa cidade, e assim ele foi ficando mais a vontade e me confidenciar várias histórias daquele período. Ele contou que as vitórias contra o selecionado de Itaú, foram mais que as derrotas. Até mesmo o próprio CENTENÁRIO, foi vítima da equipe do TOURO, e que após algumas derrotas, encerrou suas atividades definitivamente.

A quadra do quartel, durante muito tempo, foi o principal palco dos grandes torneios da BOLA PESADA. Durante a década de setenta e metade da década de Oitenta, foram tantos títulos que o Senhor LINO não soube precisar a conta, mas que ele não tem nenhuma dúvida que passou de vinte. Uma prova incontestável, da força daquela equipe e da liderança desse grande esportista, chamado LINO LOPES SOBRINHO, criador do Touro Futebol Clube, que para mim sempre será o pai do Limário.

Limário teve influência no meu estilo de jogar. Ainda lembro bem, apesar dos meus oito para nove anos de idade, quando Limário, já um adolescente, dono de uma habilidade peculiar e um estilo próprio de jogar, despertava em mim o desejo de aprender algumas de suas jogadas e um pouco de sua habilidade, exercidas por ele nos campinhos de várzea espalhados por nossa cidade. Na hora da pelada, o Limário era um dos primeiros jogadores a ser escolhido para compor os elencos das equipes. Dos filhos do senhor LINO, Limário, foi o único que chegou a atuar pela equipe do TOURO.

Apesar de ainda não ter idade suficiente para jogar ao dele, curioso, observava de fora, a forma como ele dominava a bola. A tranquilidade com abola no pé, além de ser detentor de um potente chute, me fez rever certos movimentos dentro das quatro linhas, aprimorando assim a minha habilidade. Infelizmente, devido a facilidade para ganhar peso, impossibilitou que Limário viesse a tornar-se um atleta de ponta em nossa cidade. Depois de morar fora de Pau dos Ferros por vários anos, Limário, voltou a sua terra natal, e no ano de 1999, voltamos a nos encontrar, por algum tempo ele foi meu vizinho, na rua 15 de Novembro.

Em 2012, eu já residia em Fortaleza, quando soube da sua morte. Fiquei triste pela perca de mais uma pessoa que teve um papel de destaque na minha vida de atleta, pois quando criança, fui um admirador do seu estilo de jogar, no qual me influenciou na maneira de atuar dentro das quatro linhas, e que trouxe durante todo o período que atuei nas quadras.

A história da equipe do TOURO, marcou um período de glórias de nosso esporte. Fosse atuando nos campos ou nas quadras, quando a CABEÇA de um touro, era vista entrando em quadra, carregada no peito por aqueles atletas espetaculares, a torcida já se preparava, porque a noite seria de grandes emoções.

A participação da equipe do TOURO, nas quadras do CSU, 4 de Setembro e no quartel, era a certeza de casa cheia, pois a equipe do TOURO, era admirada pelo público pauferense, e quando a disputa era contra a equipe do CENTENÁRIO ou a própria equipe da Polícia Militar, que tinha em seu comando o Capitão Geraldo Bento, aí nem se fala, a coisa pegava, o público superlotava a quadra, pois a certeza de um grande espetáculo estava garantido.

Conheci todos esses personagens, e guardei nas minhas memórias alguns dos melhores momentos daquela época. Atuações memoráveis de atletas que compuseram os elencos dos vários plantéis que a equipe do Touro formou na sua história. Atuações que marcaram minha infância, como torcedor e admirador, num período romântico do nosso esporte, que certamente teve influência decisiva na minha vida, o amor, ainda muito cedo pelo esporte. Uma coisa jamais será alcançada por outras gerações, o amor que aqueles jovens tinha pelo esporte.

A trajetória da equipe do TOURO, possibilitou que LINO cravasse o seu nome na história do nosso esporte, como um dos maiores esportistas da cidade. Pela sua participação à frente do TOURO FUTEBOL CLUBE, LINO LOPES SOBRINHO, ou simplesmente o pai do Limário, é considerado como um dos construtores do nosso esporte.”

Agradecemos ao autor pela gentileza de conceder a liberação de parte do conteúdo, especificamente neste que trata da equipe do Touro e de seu proprietário, o Sr. Lino, que já não se encontra mais entre nós. A entrevista concedida pelo Sr. Lino Lopes Sobrinho ao Sr. Jocéli Torres, é uma relíquia que ficará registrada para que as futuras gerações possam conhecer um pouco da historia desse personagem e do nosso esporte.

TOURO BANDIDO

Em 2008, após mais de 200 competições pelo Brasil, o boi Bandido teve sua carreira encerrada. Morreu em 04 de janeiro de 2009 de câncer de pele e foi enterrado no Memorial do peão em Barretos.

O boi Bandido foi conceituado melhor touro de rodeio brasileiro reconhecido internacionalmente por derrubar os peões que tentavam montar nele.


Fonte: Departamento de Comunicação da Liga Futsal de Pau dos Ferros/RN

Nenhum comentário:

Postar um comentário